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22/12/2009

As esquecidas árvores de garrancho

Estamos perto do Natal, e esse ano, meu marido e eu resolvemos não enfeitar a casa. Primeiro, por falta de tempo, com os dois trabalhando aceleradamente. Segundo, porque não temos filhos (porque quando se tem criança pequena, não há escapatória), e então estamos aproveitando enquanto dá. E terceiro, porque no fundo, a gente se deparou com um empasse sobre a nossa árvore de Natal.

Eu sou completamente contra a árvore natural. Acho um desastre se cortar uma árvore por pura estética, pura vaidade. Depois do Natal, a pobrezinha da árvore seca e vai pro lixo. É certo que aqui ela vira adubo, mas a gente vê um monte de árvores lindas sendo jogadas fora depois do ano novo e pra mim não tem explicação plausível pra isso.

O Mike (meu marido) é completamente avesso a árvores de Natal artificiais. Ele, que cresceu com os pinheiros naturais como enfeite, não consegue deixar de ver o plástico, o arame, e o pó, nas árvores artificiais.

Então esse ano não temos árvore, e tudo bem por enquanto. Mas eu sei que uma hora, a gente tem que achar alguma coisa que funcione, algo que deixe ambos satisfeitos, e que carregue alguma forma de sentido Natalino... Por isso eu fiquei pensando, e tentando lembrar de todas as minhas referências sobre Natal.

Faz mais ou menos uma semana, me lembrei de um restaurante na ida pra Ubatuba, que tinha um galho sêco gigante, cheio de enfeitinhos feito a mão. Tinha um presépio lindo no pé da árvore também. Foi nisso que me dei conta de que já tinha visto aquela imagem em algum outro lugar...

Pois na correria em crescer, e na lembrança já um pouco nebulosa da minha infância, consegui desenterrar la do fundo a memória de que minha vó Aurora sempre enfeitava um galho sêco na sala. Eu era pequena, e não me lembro se era sempre o mesmo galho, ou se era todo ano um galho diferente. Ela pintava aquele galho com spray dourado ou prateado, botava dentro de uma lata grande com areia, e enfeitava com ornamentos feitos a mão. Eu lembro bem das caixinhas de fósforo, enroladas como se fossem presentinhos, e do presépio, sempre ao pé da árvore... Ou dos anjinhos feitos de palha, se não me falha a memória. Eu era pequena, e não me tinha dado conta ainda de que minha avó Loli foi uma das pessoas mais patriotas que eu conheci.

Fui atrás dessa árvore na internet. Não sabia se eram "coisas de Lóli", ou se era uma tradição... Mas a dica pra mim de que tinha mais gente no país que fazia isso além da minha avó, foi ver a árvore no restaurante da serra, na ida pra Ubatuba (e essa viagem foi recente, quase 20 anos depois da última vez que vi a árvore da minha avó).

Encontrei muito pouco sobre essa tradição, mas sei que se chama "árvore de garrancho" e que é geralmente típica no sertão, onde não há pinheiros, e tem pouco verde. E o pouco verde que tem, não é usado assim, tão futilmente. A árvore de garrancho é feita de um galho sêco, como o sertão, e que "volta a viver" com todas as cores e texturas dos enfeites de Natal, feitos com carinho, entre família.

Na minha busca por uma árvore de Natal que satisfaça não só as nossas exigências, mas que também possa nos oferecer um verdadeiro sentido em relação ao espírito de Natal, eu re-encontrei a minha avó. Re-encontrei também uma tradição de família quase já esquecida na minha memória. Acima de tudo, finalmente eu encontrei uma árvore de Natal verdadeiramente brasileira, sem os clichés norte-americanos que ficam tão fora de contexto nos shoppings cariocas e paulistas. E o melhor disso é que não temos mais dúvidas de qual árvore vamos colocar na nossa sala no ano que vem.