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(O Porto Feminino é um blog sem fins lucrativos, que existe desde 2007. Todos os textos foram escritos por Carolina Miranda, e são portanto de autoria original. Não existe qualquer vínculo entre o Porto Feminino e o Porto Feminino Shop).

08/03/2010

8 de Março

Pensei muito antes de escrever qualquer coisa sobre o "Dia Internacional da Mulher", porém finalmente concluí que não há como não ignora-lo num blog que se preza justamente em ser voltado em "ser" mulher, em ser feminino.

O problema que eu tenho com o um dia internacional dedicado a mulher, é que se pararmos pra pensar, existem 365 dias no ano. E 50% da população mundial é composta de mulheres. A matemática é simples: quem, como e quando se dedicou apenas um dia para todas as mulheres desse mundo? Se houvesse realmente igualdade social no mundo, metade do ano seria "nosso". Metade dos parlamentos também seriam nossos e não menos de 6% no mundo. 

Ao mesmo tempo que eu aceito um dia dedicado para a reflexão da importância e do papel da mulher no mundo, não tenho como não ficar inconformada com a falta de seriadade que nos é dada nos outros 364 dias do ano. Até mesmo nesse dia simplista, já vi muita gente "comemorando" dando uma flor pra esposa, irmã, namorada... Vamos ser sinceras - eu gosto de flor, mas flor planto eu. O que as mulheres realmente precisam é de condições de trabalho que se equipararem profissionalmente ao homens, oportunidades de escolha, chances para participarem em decisões centrais - de casa e do país.

As mulheres brasileiras ocupam menos de 10% do ministério público, sendo que possuem 51% dos votos. O Brasil ocupa o quarto lugar no ranking mundial de pornografia infantil (o que é 98% um problema entre homens). No Brasil, as mulheres ainda ganham 30% menos que os homens, em cargos de chefia. A licensa maternidade ainda é de apenas 6 meses (o que  aumentou recentemente, mas que ainda está longe de ser o suficiente pra se estabilizar uma família). E finalmente, no fim de 2009 o Brasil caiu 9 posições no ranking mundial de igualdade entre os sexos, e passou de ruim pra pior. Não se engane: o Canadá não está assim tão melhor...

Pra ser bem sincera, eu trocaria qualquer exaltação do meu sexo, e qualquer dia internacional dedicado ao meu gênero, pelo poder de decisões igualitárias no meu dia a dia mundano, como por exemplo, a possibilidade da existência de creches públicas, pra que as mulheres passem a ter oportunidades e escolhas de trabalho mais justas. Ao invés de uma flor, eu escolheria escolas públicas, em período integral.

A mulher no Brasil ainda está muito longe de atingir sua autonomia - e não me refiro apenas a autonomia profissional ou financeira. Atingimos uma certa igualdade no sentido de que nos permitimos ser mais como os homens. Mulheres hoje são bem vindas num campo de futebol (mas ai delas que não sejam "gostosas" porque senão são automaticamente tachadas como "barangas"). Mulheres podem ser fortes, usar calças, "catar" outros homens, ficarem bêbadas - porém, é como se estivessem lutando pra ser mais como os homens, em tudo aquilo que os homens tem de pior. O que eu sempre me pergunto é: por que não lutar pra sermos mais mulheres? Aliás, por que não lutamos todos nós, homens e mulheres, pra sermos melhores indivíduos? Aliás, eu sempre tive pra mim que a liberação sexual feminina no Brasil  desencadeou uma falsa e ilusória versão de feminsmo; uma pseudo-liberdade. Mas enfim, isso é outro longo posting... 

A autonomia a que me refiro vem cercada de respeito social. De poder ser o que tiver vontade de ser, com dignidade e cabeça erguida. De ser dona-de-casa por escolha, sem ser sujulgada por isso. De fazer bolos, ou bordados, sem que essas coisas sejam perjorativamente tachadas como "coisas de mulher".  De ter influência nos governos e em decisões políticas, sem que isso seja "coisas de homem" e automaticamente exclusivas. 

Pra mim, feminismo é justamente isso: o dia em que ser mulher basta, em que ser mulher não necessita explicação, ou licensa. O dia em que eu possa ser mulher com a mesma dignidade de qualquer homem, independente do que eu resolva escolher como caminho de vida - ser mãe ou não, ser profissional ou não, ser mãe e profissional, ou não, não ser mãe e ser feminina, e qualquer outra combinação que vá além das limitadas referências sociais muitas vezes pré-impostas.

Então fica aqui minha sugestão - já que está, então temos que usar o dia 8 de março pra pelo menos refletir sobre quem somos, e qual o papel que queremos desempenhar. Porém é preciso cautela pra lembrar que se realmente quisermos atingir um respeito social real entre os sexos, temos que ter bem claro que o resto do ano, ou pelo menos metade dele, esses restantes 181 dias, também pertencem a nós independente do que diga qualquer calendário e que a mulher não precisa de um dia internacional de celebração ou reconhecimento. Lembremos que o "dia internacional da mulher" é só isso: um dia. 

Então fico aqui esperando (e sonhando) que vários outros dias venham a ser divididos igualmente, com dignidade e respeito, entre homens e mulheres do mundo... 

Carol

Um comentário:

Patrizia disse...

Gostoso de vim te visitar, atualizar os pensamentos e ainda ouvir boa musica! que delicia!!!