Eu re-li meu texto, depois que ele ja estava no ar... E tem uma coisa que eu preciso expressar melhor: não é a função do ator, ou a profissão, que carrega a vaidade da qual que estava falando. Era a minha relação com essa função que não era saudável. A química entre eu e a profissão de atriz não funcionava, principalmente porcausa da minha vaidade. Eu conheço atores generosíssimos. Aliás, uma das minhas amigas de infância mais queridas, a Paulinha, é uma das atrizes mais gentis e de coração aberto que conheço. A função de ator me fazia sentir no centro das atenções, mas não que isso aconteça pra todos que optem por esse caminho. Como eu disse, o duro é achar o caminho certo. A Paula, aliás, é uma das poucas pessoas que conheço que foram como flecha ao alvo desde o começo.
Eu li o blog da minha prima Thais hoje, e ela fala justamente desse sentimento que a incapacita de ser genuina com a ela mesma. Eu me identifiquei muito com o texto, porque eu tenho a impressão que estou sempre competindo com a vida, com o tempo, comigo mesma e quem estiver ao redor. Competindo por status, por carinho, por dinheiro, por atenção, por reconhecimento, etc. E o pior de tudo é que eu acho que isso é um traço muito mais feminino do que masculino e acho que é doentio, patológico mesmo, e beira a obsessão compulsiva.
Mais triste ainda mesmo é perceber que as coisas pioraram com os anos - ou no mínimo não mudaram. Eu tenho assistido ao seriado Mad Men (que no Brasil é mostrado pela HBO). É uma desgraça ver que os dilemas das mulheres da época do seriado - inicio de 1960 em Nova Iorque - são os mesmos de tantas mulheres de hoje (inclusive os meus)! E olhe que meu marido é um anjo, comparado aos homens do seriado... E se os homens então não podem servir diretamente como variáveis nessa equação, qual seria então a variável? O que causa tanta ansiedade em tantas mulheres hoje? O que causa tanto sentimento de auto-frustração e decepção?
Um amigo meu, o Brandon, ja me disse que ele acha que o maior problema das mulheres são as próprias mulheres. Vai ver ele tem uma certa razão nisso tudo. Eu pessoalmente tenho o dom de complicar a minha vida sempre que possível. Quando aparece a menor oportunidade, eu complico. E complico bem. Ou fico remoendo tudo o que ja estava complicado. Ou fico temendo o que estar por complicar. Um talento e tanto, se pararmos pra pensar - mas que não me serve de absolutamente nada. O meu irmão aliás ja me disse uma vez que eu ainda vou morrer com uma úlcera se eu não aprender a desencanar. Acho que ele está certo.
Mas de onde vem isso tudo? Essa vaidade? Essa necessidade compulsiva de ser a melhor em tudo (eu não consigo nem plantar uma muda no jardim sem estudar todas as possibilidades, ter que fazer um design inteiro do jardim. Meus hobbies - todos - viram uma compulsão perfeccionista). A teoria que eu tenho é a seguinte: as mulheres crescem com a expectativa de que para serem amadas, tem que estar sempre agradando. Parem pra pensar: quando um menino tira nota baixa na escola, não é um estardalhaço tão grande como se fosse a menina na família. Eu vejo isso com meus próprios alunos. Os pais dos meninos ja tem uma expectativa mais saudável e realistica desde a primeira série. As meninas no entanto, são as queridinhas da família. Recebem amor por fazerem as coisas certas, de modo certo, e crescem querendo agradar. E não tem quem escape. É como destreinar cachorro - a gente faz um carinho e ri quando eles pulam (sem perceber que ai, cada vez eles pulam mais, e mais alto).
Acho que conosco, mulheres, é a mesma coisa. Quando somos meninas, recebemos carinho pelos nossos pulinhos infantis, mas nossos pais não percebem que mais pra frente, os pulinhos deixam de fazer efeito e em algum momento acho que toda mulher acaba achando que tem que pular da ponte pra chamar atenção, pra agradar, pra ser vista. Os meninos não.. já se acostumaram com expectativas mais baixas. Cresceram com elas. Sem contar a garantia que eles tem pelo fato de serem homens: mais chances de emprego, promoção, opções etc.
Tudo isso é realmente um vulcão a espera da erupção.
Enfim, eu queria deixar claro que a vaidade da qual falei na semana passada, foi a minha vaidade, a que eu uso constantemente pra contar meus pontos. Perda de tempo.
Pois aqui fica então o meu desejo de descomplicação, de auto-aceitação pra quem venha a ler esse texto. Chutem o balde, se atrasem, digam não, percam e deêm risada da perda, não lavem a louça, não passem a roupa, não façam a unha, depilem quando quiserem e se quiserem, não agradem, exijam que os maridos alimentem as crianças, ou os gatos, ou os cachorros pelo menos três dias da semana - se libertem da necessidade de serem perfeitas, impecáveis. Se libertem de vocês mesmas. Não se sintam menos amadas caso sua mãe, sua tia, seu filho, sua filha, discordem de vocês. Lembrem-se que discordar não significa amar menos, que o mundo vai continuar no lugar, que o sol vai continuar brilhando, e que sua mãe, tia, filho e filha vão continuar te amando. Celebrem suas vitórias, se dêem valor. Passem a se amar um pouquinho mais - mas não o amor cheio de expectativas: tem que ficar bonita, tem que pesar isso, ou aquilo. Como ja disse Hebert Vianna, "saber amar, saber deixar alguém te amar".
Eu vou fazer o mesmo.
Carol
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