Esse post já tem ruminado comigo por um mês... Várias amigas minhas me escreveram sobre os meus questionamentos sobre ter ou não ter filhos, e me dei um tempo pra pensar em tudo que escreveram. Quatro conversas causaram um impacto em mim, vindas da Patrizia, minha amiga que mora em Washington, da Ju, minha amiga que acabou de voltar pra Jundiaí, da minha prima Lara e da minha tia Angela...
Nós cinco temos algo em comum: temos muita paixão pela nossa carreira, nossas habilidades intelectuais e profissionais e tendemos a priorizar outras coisas na vida além do futuro de casar e ser mãe (apesar de três dessas cinco mulheres já serem casadas e uma delas ter filho).
Ter filhos é então um questionamento natural, pra pessoas como nós, que nos permitimos viver experiências alternativas e analisar as possibilidades de caminhos diferentes.
Quando estava conversando com a Lara sobre outra prima nossa, super nova, e que está prestes a ter seu primeiro bebê, ela me colocou o seguinte argumento e me deu a seguinte perspectiva: as pessoas organizam a vida de maneiras distintas. Isso significa que as suas prioridades e satisfações acontecem de modo diferente. Essa prima nossa por exemplo, tem uma lista de prioridades completamente diferente da minha, mas no fundo, as duas vidas, a minha e da minha prima que está pra ser mãe, vão acabar no mesmo caminho. Um dia, nossos filhos crescem, e nos deixam, nossos netos tomam seu próprio rumo, e a gente morre sozinho. Mas quem escolheu a carreira, um dia também se aposenta, a carreira também acaba, e no fim, aquela pessoa também vai envelhecer sozinha.
E foi ai que eu me dei conta, que não importa o que a gente faça, no fim, com ou sem família, grande ou pequena, no fim de tudo, a gente fica só. A gente vem pra esse mundo só e sai dele só. Pensei no avô do Mike, meu marido, que teve três filhos, deixou a mulher e filhos pra trás (a história verdadeira ninguém sabe até hoje) e construiu uma vida nova distante, com outra mulher. Foram felizes, não tiveram filhos, e no fim, ela morreu primeiro, e ele viveu até os 92 anos de idade. No último dia de sua vida, por mais que a gente tivesse tentado estar presente o quando possível, ele morreu no hospital, a noite, sozinho. E foi assim que eu vi que por mais que a gente viva, por mais que a gente faça, nosso fim é o mesmo.
Então qual a melhor forma de se viver essa vida que existe entre esses momentos de absoluta solidão? Existe uma escolha que seja melhor que a outra?
Eu acho que a única resposta certa é aquela que a gente sente dentro da gente, que ecoa tão alto que não há como ser ignorada. E é uma resposta única, que não se encaixa na vida de mais ninguém a não ser a nossa. Cada um é responsável por achar a sua própria resposta.
No meu caso, eu refleti muito desde o email da Pati. Ela dividiu comigo uma conversa que teve com sua própria mãe, e em que ela lhe disse o seguinte: "ser mãe é o único amor que supre a abundância de amor que a mulher tem a oferecer... Parece que sobra amor, que sobra dedicação, e o filho é a única coisa que completa essa insatisfação." Porém quanto mais reflito na minha dose de amor com relação ao mundo, eu tenho mêdo justamente do contrário. Temo que tendo meu próprio filho, não sobre amor pra dar pro mundo. A minha capacidade de compaixão, paciência e perdão aumentou muito nos últimos anos, e hoje me encontro num certo momento emocional no qual tenho muita satisfação. E eu sei que justamente porcausa da minha falta de preocupações com qualquer outro ser dependente da minha vida, eu posso me doar de modos que outras pessoas não podem.
Por exemplo, eu encontro satisfação na minha capacidade de amar meus alunos com zelo. Eu encontro satisfação na minha capacidade de paciência com as famílias dos meus alunos. E não sei se esse espaço estaria aberto, caso eu tivesse um ser que dependesse tão exclusivamente de mim. O fato é que quando eu penso em ser mãe, eu tenho mêdo de virar uma pessoa egoísta. Lutei tanto contra meu ego-centrísmo e egoísmo, que tenho mêdo de perder essa humildade na qual eu sinto prazer e que me faz bem - e que pelo contrário, não me causa ansiedade ou insatisfação. Na verdade, me satisfaz.
Eu sei também a meu respeito, que eu tenho um mêdo enorme de perda, e a maternidade é um ato de fé imenso, em que a gente tem que se entregar ao mistério divino com a confiança de que não existirá perda - porque não consigo imaginar dor maior nesse mundo do que perder um filho. Por isso, acho que ter filho é um dos maiores atos de fé que se pode ter - principalmente se você é como eu, consciente das perdas que podem estar envolvidas no processo. E pra ser sincera, eu simplesmente não sei se tenho tanta coragem assim. Mas quanta coragem será necessária nesse mundo? Talvez, coragem maior seja preciso pra se dizer não quando todos dizem sim.
Uma analogia me veio em mente. Por exemplo, eu tenho muito mêdo de altura. Sempre odiei desde pequena, e isso é um fato que passei a respeitar em mim. Ai fui até Paris, esperei na fila da Torre Eiffel, e ainda na fila, desisti de subir. Tem gente que me acha louca por isso - como ir até Paris e não subir na Torre Eiffel? Mas a verdade é a seguinte: eu amei Paris do meu jeito e ninguém pode dizer que minha experiência foi mais ou menos do que qualquer outra, apenas porque não experienciei a subida na Torre Eiffel. A minha experiência em Paris foi intensa, e linda. Minhas memórias seguem vivas, com cores, sons, e cheiros que dóem no meu peito de tanta saudade. E eu resolvi respeitar minhas limitações, respeitar o que eu conheço de mim, pra entender que toda aquela viagem podia sim ser maravilhosa e preciosa, mesmo sem subir no topo da torre. E no fim, eu sei que teriam sido 3 horas de puro mal-humor, causando estresse entre o meu marido e eu, só pra provar algo que eu na verdade não preciso provar pra ninguém. Quando a gente se conhece tão bem assim, e essas vozes ecoam tão alto dentro da gente, acho que é válido ouvir e respeitar. Ao invés de subir na torre, eu fui andar pelo canal a noite, silencioso, quieto, e vi com meu marido pela primeira vez, a torre explodindo em luzes de longe, refletindo no canal.
Uma analogia me veio em mente. Por exemplo, eu tenho muito mêdo de altura. Sempre odiei desde pequena, e isso é um fato que passei a respeitar em mim. Ai fui até Paris, esperei na fila da Torre Eiffel, e ainda na fila, desisti de subir. Tem gente que me acha louca por isso - como ir até Paris e não subir na Torre Eiffel? Mas a verdade é a seguinte: eu amei Paris do meu jeito e ninguém pode dizer que minha experiência foi mais ou menos do que qualquer outra, apenas porque não experienciei a subida na Torre Eiffel. A minha experiência em Paris foi intensa, e linda. Minhas memórias seguem vivas, com cores, sons, e cheiros que dóem no meu peito de tanta saudade. E eu resolvi respeitar minhas limitações, respeitar o que eu conheço de mim, pra entender que toda aquela viagem podia sim ser maravilhosa e preciosa, mesmo sem subir no topo da torre. E no fim, eu sei que teriam sido 3 horas de puro mal-humor, causando estresse entre o meu marido e eu, só pra provar algo que eu na verdade não preciso provar pra ninguém. Quando a gente se conhece tão bem assim, e essas vozes ecoam tão alto dentro da gente, acho que é válido ouvir e respeitar. Ao invés de subir na torre, eu fui andar pelo canal a noite, silencioso, quieto, e vi com meu marido pela primeira vez, a torre explodindo em luzes de longe, refletindo no canal.
Um outro argumento que existe muito forte dentro de mim e que me faz pensar duas, três vezes antes de ter filho é o fato de que eu sinceramente não acho que esse mundo precise de mais gente. Aliás, levo essa questão tão a sério que se eu resolver ter filho, vai ser um só mesmo. Existe uma responsabilidade e uma conscientização ecológica e humana a qual eu passei a enxergar que é difícil me desfazer. Na minha opinão, veja bem - pra mim, pra vida que eu escolho ter dia-a-dia - ter mais do que um filho seria um pecado humano e ecológico. E que fique claro: coloquei tudo em primeira pessoa, porque estou estritamente escrevendo a meu respeito, e como eu me sinto diante do mundo. Vários dos meus amigos tem mais do que um filho. São crianças lindas, preciosas. Mas não tenho como me dissociar de convicções que justamente me fazem quem eu sou.
Por exemplo, quando escrevi sobre a minha hidroterapia, um dos emails mais interessantes que recebi, foi o da minha tia Angela, contando que há mais de quarenta anos atrás, minha avó fez o mesmo tratamento que eu faço hoje - e que foi a única coisa que curaram suas varizes. Se pararmos pra pensar, a beleza dessa história está sim nesse elo entre minha avó e eu, mas que teria permanecido obscuro se não fosse pela minha tia. Portanto, quem passou a geração hereditária adiante nesse caso, foi sim o meu pai. Porém a magia do elo entre gerações, entre minha avó e eu pela hidroterapia que nos une, só aconteceu através da minha tia, que apesar de não ter passado seus genes adiante, foi quem passou a história. A minha tia, com ou sem filhos, é uma das maiores guardiãs da história e das tradições da minha famíla, sem dúvidas. Pra mim, a beleza e o elo entre as gerações se encontra no conhecimento e na propagação das histórias de família... E isso pode acontecer através de histórias escritas, de filhos que colocamos no mundo, de tios e tias que permaneceram sozinhos e por isso observaram e guardaram em sua memória, detalhes que mais ninguém guardou.
No fim de tudo, acho que a única coisa que realmente importa (e na qual a Lara, a Pati, a Ju e a minha tia Angela concordamos) é estarmos felizes, em em paz com as nossas decisões. Eu espero de coração, que minha prima Marina (que está pra ter neném) tenha feito uma escolha profundamente sincera. E que ser mãe a traga alegrias e satisfações concretas.
É preciso muita coragem pra gente se olhar no espelho, e abrir os olhos. Acho que o único compromisso real que temos com a vida, é escutarmos a nossa verdade interior, e aprendermos a amar "sem escalas", voando em direção ao nosso potencial divino, aceitando que a cada um de nós foi dado um potencial distinto e único.
Carol