Aviso Importante:

(O Porto Feminino é um blog sem fins lucrativos, que existe desde 2007. Todos os textos foram escritos por Carolina Miranda, e são portanto de autoria original. Não existe qualquer vínculo entre o Porto Feminino e o Porto Feminino Shop).

28/02/2010

Diálogo - ou "o caminho do meio III"

Esse post já tem ruminado comigo por um mês... Várias amigas minhas me escreveram sobre os meus questionamentos sobre ter ou não ter filhos, e me dei um tempo pra pensar em tudo que escreveram. Quatro conversas causaram um impacto em mim, vindas da Patrizia, minha amiga que mora em Washington, da Ju, minha amiga que acabou de voltar pra Jundiaí, da minha prima Lara e da minha tia Angela...

Nós cinco temos algo em comum: temos muita paixão pela nossa carreira, nossas habilidades intelectuais  e profissionais e tendemos a priorizar outras coisas na vida além do futuro de casar e ser mãe (apesar de três dessas cinco mulheres já serem casadas e uma delas ter filho).

Ter filhos é então um questionamento natural, pra pessoas como nós, que nos permitimos viver experiências alternativas e analisar as possibilidades de caminhos diferentes.

Quando estava conversando com a Lara sobre outra prima nossa, super nova, e que está prestes a ter seu primeiro bebê, ela me colocou o seguinte argumento e me deu a seguinte perspectiva: as pessoas organizam a vida de maneiras distintas. Isso significa que as suas prioridades e satisfações acontecem de modo diferente. Essa prima nossa por exemplo, tem uma lista de prioridades completamente diferente da minha, mas no fundo, as duas vidas, a minha e da minha prima que está pra ser mãe, vão acabar no mesmo caminho. Um dia, nossos filhos crescem, e nos deixam, nossos netos tomam seu próprio rumo, e a gente morre sozinho. Mas quem escolheu a carreira, um dia também se aposenta, a carreira também acaba, e no fim, aquela pessoa também vai envelhecer sozinha.

E foi ai que eu me dei conta, que não importa o que a gente faça, no fim, com ou sem família, grande ou pequena, no fim de tudo, a gente fica só. A gente vem pra esse mundo só e sai dele só. Pensei no avô do Mike, meu marido, que teve três filhos, deixou a mulher e filhos pra trás (a história verdadeira ninguém sabe até hoje) e construiu uma vida nova distante, com outra mulher. Foram felizes, não tiveram filhos, e no fim, ela morreu primeiro, e ele viveu até os 92 anos de idade. No último dia de sua vida, por mais que a gente tivesse tentado estar presente o quando possível, ele morreu no hospital, a noite, sozinho. E foi assim que eu vi que por mais que a gente viva, por mais que a gente faça, nosso fim é o mesmo.

Então qual a melhor forma de se viver essa vida que existe entre esses momentos de absoluta solidão? Existe uma escolha que seja melhor que a outra?

Eu acho que a única resposta certa é aquela que a gente sente dentro da gente, que ecoa tão alto que não há como ser ignorada. E é uma resposta única, que não se encaixa na vida de mais ninguém a não ser a nossa. Cada um é responsável por achar a sua própria resposta.

No meu caso, eu refleti muito desde o email da Pati. Ela dividiu comigo uma conversa que teve com sua própria mãe, e em que ela lhe disse o seguinte: "ser mãe é o único amor que supre a abundância de amor que a mulher tem a oferecer... Parece que sobra amor, que sobra dedicação, e o filho é a única coisa que completa essa insatisfação." Porém quanto mais reflito na minha dose de amor com relação ao mundo, eu tenho mêdo justamente do contrário. Temo que tendo meu próprio filho, não sobre amor pra dar pro mundo. A minha capacidade de compaixão, paciência e perdão aumentou muito nos últimos anos, e hoje me encontro num certo momento emocional no qual tenho muita satisfação. E eu sei que justamente porcausa da minha falta de preocupações com qualquer outro ser dependente da minha vida, eu posso me doar de modos que outras pessoas não podem.

Por exemplo, eu encontro satisfação na minha capacidade de amar meus alunos com zelo. Eu encontro satisfação na minha capacidade de paciência com as famílias dos meus alunos. E não sei se esse espaço estaria aberto, caso eu tivesse um ser que dependesse tão exclusivamente de mim. O fato é que quando eu penso em ser mãe, eu tenho mêdo de virar uma pessoa egoísta. Lutei tanto contra meu ego-centrísmo e egoísmo, que tenho mêdo de perder essa humildade na qual eu sinto prazer e que me faz bem - e que pelo contrário, não me causa ansiedade ou insatisfação. Na verdade, me satisfaz.

Eu sei também a meu respeito, que eu tenho um mêdo enorme de perda, e a maternidade é um ato de fé imenso, em que a gente tem que se entregar ao mistério divino com a confiança de que não existirá perda - porque não consigo imaginar dor maior nesse mundo do que perder um filho. Por isso, acho que ter filho é um dos maiores atos de fé que se pode ter - principalmente se você é como eu, consciente das perdas que podem estar envolvidas no processo. E pra ser sincera, eu simplesmente não sei se tenho tanta coragem assim. Mas quanta coragem será necessária nesse mundo? Talvez, coragem maior seja preciso pra se dizer não quando todos dizem sim.

Uma analogia me veio em mente. Por exemplo, eu tenho muito mêdo de altura. Sempre odiei desde pequena, e isso é um fato que passei a respeitar em mim. Ai fui até Paris, esperei na fila da Torre Eiffel, e ainda na fila, desisti de subir. Tem gente que me acha louca por isso - como ir até Paris e não subir na Torre Eiffel? Mas a verdade é a seguinte: eu amei Paris do meu jeito e ninguém pode dizer que minha experiência foi mais ou menos do que qualquer outra, apenas porque não experienciei a subida na Torre Eiffel.  A minha experiência em Paris foi intensa, e linda. Minhas memórias seguem vivas, com cores, sons, e cheiros que dóem no meu peito de tanta saudade. E eu resolvi respeitar minhas limitações, respeitar o que eu conheço de mim, pra entender que toda aquela viagem podia sim ser maravilhosa e preciosa, mesmo sem subir no topo da torre. E no fim, eu sei que teriam sido 3 horas de puro mal-humor, causando estresse entre o meu marido e eu, só pra provar algo que eu na verdade não preciso provar pra ninguém. Quando a gente se conhece tão bem assim, e essas vozes ecoam tão alto dentro da gente, acho que é válido ouvir e respeitar. Ao invés de subir na torre, eu fui andar pelo canal a noite, silencioso, quieto, e vi com meu marido pela primeira vez, a torre explodindo em luzes de longe, refletindo no canal. 

Um outro argumento que existe muito forte dentro de mim e que me faz pensar duas, três vezes antes de ter filho é o fato de que eu sinceramente não acho que esse mundo precise de mais gente. Aliás, levo essa questão tão a sério que se eu resolver ter filho, vai ser um só mesmo. Existe uma responsabilidade e uma conscientização ecológica e humana a qual eu passei a enxergar que é difícil me desfazer. Na minha opinão, veja bem - pra mim, pra vida que eu escolho ter dia-a-dia - ter mais do que um filho seria um pecado humano e ecológico. E que fique claro: coloquei tudo em primeira pessoa, porque estou estritamente escrevendo a meu respeito, e como eu me sinto diante do mundo. Vários dos meus amigos tem mais do que um filho. São crianças lindas, preciosas. Mas não tenho como me dissociar de convicções que justamente me fazem quem eu sou.

Assim como a Patrizia, eu também sinto que a maternidade é um elo entre gerações. Por exemplo, quando falo ou escrevo sobre meus avós com tanta paixão, eu sei que apenas eu posso passar essas histórias adiante. Que as experiências, as memórias e histórias da qual eu fiz parte, do modo que eu vivenciei, só eu posso dividir. Porém não tenho tanta convicção como a Patrizia, de que a minha responsabilidade é de propagar meus ancestrais em carne e osso. Acho problemática essa tentativa de controle genético, de acreditar que vamos deixar um marco físico no mundo que é o nosso legado. Acho que existe um fluxo de vida, uma força cósmica que age sobre nós. A propagação do conhecimento milenar de famílias acontece de uma forma ou de outra com nossos filhos ou não e eventualmente desaparece também.

Por exemplo, quando escrevi sobre a minha hidroterapia, um dos emails mais interessantes que recebi, foi o da minha tia Angela, contando que há mais de quarenta anos atrás, minha avó fez o mesmo tratamento que eu faço hoje - e que foi a única coisa que curaram suas varizes. Se pararmos pra pensar, a beleza dessa história está sim nesse elo entre minha avó e eu, mas que teria permanecido obscuro se não fosse pela minha tia. Portanto, quem passou a geração hereditária adiante nesse caso, foi sim o meu pai. Porém a magia do elo entre gerações, entre minha avó e eu pela hidroterapia que nos une, só aconteceu através da minha tia, que apesar de não ter passado seus genes adiante, foi quem passou a história. A minha tia, com ou sem filhos, é uma das maiores guardiãs da história e das tradições da minha famíla, sem dúvidas. Pra mim, a beleza e o elo entre as gerações se encontra no conhecimento e na propagação das histórias de família... E isso pode acontecer através de histórias escritas, de filhos que colocamos no mundo, de tios e tias que permaneceram sozinhos e por isso observaram e guardaram em sua memória, detalhes que mais ninguém guardou.

No fim de tudo, acho que a única coisa que realmente importa (e na qual a Lara, a Pati, a Ju e a minha tia Angela concordamos) é estarmos felizes, em em paz com as nossas decisões. Eu espero de coração, que minha prima Marina (que está pra ter neném) tenha feito uma escolha profundamente sincera. E que ser mãe a traga alegrias e satisfações concretas.

É preciso muita coragem pra gente se olhar no espelho, e abrir os olhos. Acho que o único compromisso real que temos com a vida, é escutarmos a nossa verdade interior, e aprendermos a amar "sem escalas", voando em direção ao nosso potencial divino, aceitando que a cada um de nós foi dado um potencial distinto e único.

Carol

23/02/2010

Pequenos Prazeres

Quando me mudei pro Canadá há quase sete anos atrás, uma das coisas mais chatas que encontrei por aqui foi a minha batalha no supermercado. Os produtos aqui (há sete anos atrás) não continham os rótulos detalhados que existem no Brasil desde 1998 e nem uma legislação complexa como a do Brasil, pra que os produtos de limpeza e de higiene pessoal fossem na sua maioria biodegradáveis. Na verdade, quando cheguei, só dava pra comprar detergente pelo cheiro (mal se listavam os ingredientes). Por isso, quando me mudei pra cá, com a dificuldade de saber o que eu estava comprando, eu passei a fazer algumas escolhas radicais.

Por exemplo, comecei a comprar sabão de roupa bem hippie. Sem cheiro, e completamente biodegradável. Passei a comprar essas coisas em lojas hippies mesmo, porque pelo menos assim eu sabia que não estaria destruindo por exemplo, o rio que hoje passa do lado da minha casa. 

Enfim, os tempos aqui mudaram, e finalmente eles alcançaram o Brasil nesse aspecto (aliás, vocês não imaginam o tanto de coisa que o Brasil tem e que é melhor, mais bonito, mais avançado, mas isso é outra história por completo). Bom, o fato é que hoje as comidas compradas em super-mercado têm rótulos tão detalhados quanto os do Brasil, e os produtos sanitários também. Isso significa que finalmente, a indústria de sabão pra lavar roupa tem que escrever na embalagem se o sabão é biodegradável ou não.

Foi então, que outro dia, comprei depois de quase sete anos, uma garrafona de sabão e amaciante como o dos velhos tempos: comerciais, cheirosos e finalmente, biodegradáveis! E foi ai que re-descobri mais um desses pequenos prazeres que nos permeiam todos os dias, mas que as vezes são tão simples e acabam se tornando tão óbvios, que ficam sem notoriedade alguma: as roupas perfumadas saídas da máquina de lavar (ou secar no meu caso)! 

Lavei um total de cinco ciclos de roupa, e pra minha surpresa, eu cheirei compulsivamente cada peça que saia da máquina. Cada uma. 

Agora... Não estou falando aqui do sentimento de deslumbramento patético e solitário que Margareth Mansfield descreveu tão bem Bliss. Esse aqui foi um sentimento de nostalgia, de redescobrimento de cheiros que senti por toda minha infância (sempre tivemos lençóis cheirosos em casa...) É um sentimento que me faz lembrar de que a vida que eu escolho todo dia, a vida que realmente me importa, talvez não seja pontuada por grandes feitos, mas tem em si uma beleza delicada, sutil de roupas cheirosas. 

Talvez não seja uma vida pontuada por breves momentos de glória (por mais que eu sonhe, eu duvido que um dia eu venha a ser um marco em educação), mas é uma vida permeada de pequenos prazeres por todos os lados, como o cheiro de lenha queimando na lareira da casa do lado, ou de ver a neve grudar nos galhos das árvores e imaginar como Leslie Parke as pintaria... 

E foi assim que eu aprendi nesses últimos sete anos que de repente essa vida não precisa ser vivida apenas com a intensidade na qual o Brasil faz sua fama, constantemente descrita por poetas considerados ilustres, venerados no Brasil, como Vinícius de Moraes, ou Chico Buarque... A nossa cultura têm várias nuânces, e hoje não me considero menos brasileira simplesmente porque gosto de quietude e simplicidade (e em minhas redescobertas foi que me dei conta que Deus nos deu também a Cecília Meireles...) 

Tenho cada vez mais percebido que no mundo ocidental (seja no Brasil ou no Canadá) muitas vezes super-valorizamos momentos intensos de felicidade instantanea (pense por exemplo no que se tornou o Carnaval) e ignoramos a felicidade que está bem aqui do nosso lado, todos os dias, com cheiro de roupa lavada...

Carol

15/02/2010

Com Comentários...

Essa semana estou abarrotada de coisas. Meu irmão veio passar a semana com a gente, o que é ótimo, mas envolve uma quantidade absurda de produção de bolos. Tem mais o fato de eu estar tentando fazer meu curso, terminar meu semestre em três semanas, e o pior de tudo (que atrapalha a minha concentração por completo) - as olimpíadas de inverno!

Quem me conhece, sabe que eu não ligo pra esportes a não ser quando aparecem as Olimpíadas e a Copa do Mundo. E desde que eu adicionei oficialmente a minha cidadania Canadense ao meu rol de documentos, essa é a primeira olímpiada de inverno em que eu estou oficialmente torcendo pelos meus compatriotas Canadenses! E eu amo cada minuto dos jogos (apesar de me deixar atrasada em tudo que é outro compromisso - corrigir provas, redações, fazer bolo, cozinhar jantar, fazer a cama, etc etc etc).

Porém não há como eu deixar de comentar sobre a grosseiria, o absurdo que aconteceu esse ano por aqui. Justamente aqui, no solo onde nasceu o movimento feminista, pela primeira vez, deixaram de fora um evento olimpico - o salto de esqui feminino: o feminino apenas.

O problema é o por quê de terem deixado esse evento de fora: não dava audiência, e portanto não merecia competir.

Eu quero deixar claro uma coisa: os jogos até agora tem sido lindos. Claro que com um monte de problemas (como diz o meu irmão, é bom ver os jogos aqui pra lembrar que tem cagada do mesmo jeito). O evento de patinação com velocidade está atrasado faz mais de quatro horas (deu um monte de problemas) mas os atletas estão na sua maioria, impecáveis. E esse lance de deixar o salto de esqui feminino de fora não foi por escolha do Comitê Canadense, mas do Comitê Internacional Olímpico.

Eu assino uma revista chamada "Ms. Magazine" que é dedicada estritamete a assuntos internacionais com uma perspectiva feminina e feminista. A revista geralmente dedica a sua última página a uma seção chamada "Sem Comentários" em que eles expõe campanhas de marketing altamente machistas. Eles não escrevem uma linha a respeito, não comentam. Deixam apenas o número do telefone da marca, ou o email, pra que o público possa ligar e reclamar fazendo com que a campanha saia do ar.

Quando eu dei o título desse posting, eu estava pensando nessa página da Ms. Magazine. Mas não tem como eu não deixar aqui o meu comentário de como eu acho que isso mostra tão claramente que nós mulheres ainda temos muito por que lutar, e quem acha o contrário ou é ingênuo, ou cego. E o exemplo das olimpíadas de inverno é apenas um, pequeno, mas que tem uma projeção internacional imensa, e tem também o espírito olímpico que é exatamente o oposto a que isso tudo representa.

Infelizmente, não há mais nada que possa ser feito a respeito dessas olimpíadas. O evento não existe, e os jogos ja começaram. Mas serve como um lembrete muito triste e sério de que nós mulheres ainda temos muito por fazer, espaço por conquistar, e respeito por ganhar...

Sejamos honestos: não existe um evento olimpíco masculino que sequer corra o risco de ser cancelado - quem assiste biatlon de inverno - masculino ou feminino?

Enfim, pra quem quiser saber mais sobre essa triste realidade, clique no link do website Let Women Ski Jump, e pra quem quiser achar um jeito de reclamar, fazer barulho, e dizer pra quem organiza os eventos, que isso é um ato inconstitucional, o Comitê Olímpico Internacional é o responsável direto por essa péssima decisão.

Por jogos olímpicos mais justos, deixo aqui o meu comentário.
Carol



10/02/2010

Hidroterapia pra varizes - um capítulo a parte (não tente em casa sem ordem específica do seu médico!)

Existem 3 traços genéticos da minha família que eu carrego, e que eu não diria necessariamente com muita honra... Desde nova, eu sempre soube que eu teria que enfrentar os seguintes tratamentos cosméticos: depilação, química pro cabelo, e tratamento pra varizes.

Eu sempre fui peluda - tipo, pêlo escuro, grosso, longo e duro. Minha primeira depilação, eu fiz aos treze anos. Aliás, foi meu presente de aniversário. Começou assim, o sofrimento número um. Graças a Deus (que fez com que o nosso pêlo afinasse com a idade) e a geografia do país que eu vivo (que está coberto de neve por quase seis meses do ano), hoje eu depilo (e sofro) menos.

O meu primeiro cabelo branco apareceu quando eu tinha 16 anos. Eu lembro bem. Estava almoçando com uma amiga minha aqui no Canadá da primeira vez que morei aqui, e ela viu e arrancou. Ela não sabia do nosso ditado, de que quando arrancamos um, nascem sete (ou setenta) outros. Enfim... Graças a indústria de cosméticos (que inventou a tintura) e de novo ao país que eu vivo (que tem de tudo - gente vestindo preto com cabelo verde, até mulheres lindíssimas com cabelos grisalhos) eu aprendi a administrar bem o meu envelhecimento precoce. Além do mais, depois que os cabelos grisalhos começam a aparecer na sombrancelha, no sovaco, e por ai vai, a gente sabe que a causa já está perdida há muito tempo. Então no fundo acho que me rendi.

E finalmente, desde os 18 anos, eu tenho vasos linfáticos preponderantes, roxos... Lembro inclusive de ter visto um especialista pra varizes bem nova, acho que eu tinha uns 20 anos. Minha avó Rosa sofre até hoje com as tais varizes. Enfim, hoje, aos 29, eu finalmente cheguei a conclusão de que não dava mais pra ignorar. Minhas pernas estavam começando a ficar completamente roxas, sem contar que doia muito, porcausa da má circulação. Como eu sou adepta da homeopatia, e naturopatia, eu resolvi primeiro conversar com a minha homeopata a respeito. Ah, se eu soubesse...

O tratamento que ela me deu é o seguinte: dois baldes altos, em que eu possa colocar água suficiente até o joelho. Em um dos baldes, eu tenho que colocar água bem quente ( 50 graus celsius ou mais) e no outro, água bem gelada (a minha está mais ou menos nuns 2 graus celsius). E ai começa a tortura: eu ponho minhas pernas, até o joelho, por três minutos no balde de água quente. Depois pulo dentro do balde gelado por 30 segundos. Depois volto pro quente, e depois entro no gelado de novo. Tenho que repitir o auto-flagelamento 4 vezes até terminar com o balde de água gelada.

Só vou dizer o seguinte: a Lola se assusta quando eu estou fazendo a terapia, e eu dou graças a Deus que não tem criança na casa, porque "caralho" é um dos palavrões mais leves que saem da minha boca durante o processo.

AFE!

Enfim... Por outro lado, eu também tenho que ser sincera... Felizmente (ou infelizmente, depende se você me pergunta quando eu estou dentro ou fora dos baldes) a tal da terapia funciona. Minhas veias, em apenas três dias de tratamento, diminuíram tanto que eu mal acredito. Umas inclusive ja sumiram. As minhas pernas não se sentem mais cansadas, e eu não senti mais caimbra a noite. O tratamento dura um mês inteiro e intenso - não posso escapar nem um dia (tenho a impressão que meu irmão - que chega amanhã, pra ficar 10 dias - vai se deliciar com os episódios). Depois disso, tenho que fazer a hidroterapia pro resto da vida, uma vez por semana, pra mater a minha circulação em dia.

Enfim... Pra quem sofre de varizes, eu aconselho, embora aviso: é foda. Minha amiga Sue teve neném em casa, sem anestesia, e diz ela que foi a maior dor da vida dela... Eu sei que esse blog na maioria das vezes é dedicado ao meu dilema de ter ou não ter filhos, mas uma coisa eu nem questiono: se eu tiver, vai ter peridural.

Pena que não inventaram ainda uma anestesia pra hidroterapia de varizes. Pode ter certeza: eu tomaria sem nenhum remorso.

Carol


08/02/2010

Raiva, Cegueira e Vaidade

A semana passada foi uma loucura. Chegou o final da semana e eu estava só o pó. Vou fazer um breve resumo.

A semana começou assim: eu fui expulsa de um curso (a história é longa, chata, e sem relevância pra qualquer outra pessoa que não dê aula em Ontario), e depois fui re-aceita (a faculdade percebeu que o erro estava do lado deles). Vocês não imaginam o estresse, e a raiva que me deu da louca da professora que me expulsou. Mas (não sem a ajuda fundamental do meu marido) eu segurei as pontas, e consegui elaborar tudo muito bem de modo que eu fui quem resolvi as coisas de uma maneira civilizada. Fiquei muito orgulhosa de mim, por não ter deixado o sangue subir e dizer o que eu realmente estava sentindo (e queria dizer) pra tal da professora que quase transformou minha vida num inferno. Enfim. Deixei isso de lado, e tentei fazer as coisas de uma maneira em que o meu foco fosse eu - não ela. E ai sim, cuidei de mim e poupei minhas energias contra ela.

Depois, por outros motivos que aqui também não importam (a não ser se você dá aula em Ontario) eu escrevi pra um educador super famoso aqui no Canadá, sem expectativas de que ele sequer escrevesse de volta, e ele não só respondeu como lembrou exatamente de mim! (Eu o conheci quando organizei e assiti a sua palestra enquanto estava na faculdade aqui há uns 4 anos atrás). O fato é o seguinte: o Chris D'Sousa (esse professor super star) está intimamente ligado a todo o movimento de proteção e propagação da diversidade cultural nas escolas de Ontario - em sumo, a justiça social na escola. E foi ele quem abriu meus olhos pro fato de que aqui, eu vou ser sempre o outro, o imigrante, mas que isso não precisa ser necessariamente uma experiência negativa. Ao contrário, se a gente realmente se aceita e se permite ser, coisas incríveis acontecem. Foi ele um dos maiores responsáveis por elevar meu nível de confiança em mim mesma como professora, ao me lembrar que embora eu tenha um sotaque, eu tenho duas outras línguas, e que quando as famílias recém-chegadas da Colombia percebem que pelo menos eu sei estender a mão e falar "hola", elas não ligam pro meu sotaque e não me acham menos por isso. Foi esse homem (a quem eu escrevi pra agradecer mais uma vez, de coração pela sua luta interminável, e que essa semana finalmente culminou num documento oficial que todas as escolas daqui vão ter que adotar) que me mostrou que eu podia ser muito mais do que apenas mais uma professora, justamente porque eu sou diferente dos outros.

E finalmente, ja pelo fim da semana, eu tomei a decisão de não me preocupar mais com o fato do meu contrato só ir até abril, e abrir os olhos pras possibilidades que isso poderia me trazer também. Fiz um pacto comigo mesma de não me alarmar ao ficar desempregada (de novo) e aprender a me deixar levar. Existe uma dose de humildade nesse ato de fé na vida, que eu normalmente não tenho. Quem me conhece bem, sabe que essa é uma atitude radical pra mim... Geralmente eu me preocupo além da conta, e fico extremamente anciosa com situações das quais eu não tenho controle. Enfim, eu decidi tirar o melhor da situação, ja que a situação era essa (tudo isso porque no fim do mês de janeiro, a professora que eu substitui me escreveu dizendo que ela estava considerando voltar em abril). Enfim, fiz uma proposta pro meu diretor pra voluntariar na escola até eu conseguir outro contrato, de montar um grupo Multicultural uma vez por semana, contanto que ele me chamasse pra outra licensa maternidade assim que ele tivesse a oportunidade. Foi então que na sexta-feira, ele me chama no escritório dele e diz: "Carolina, então... preciso que você continue aqui até junho. A outra professora resolveu não voltar, e o emprego é seu até o fim do ano! Parabéns!"

Na sexta, quando eu finalmente administrei todo esse vai-e-vem, e esses altos e baixos, eu tive um sonho muito bizarro.

Sonhei que o Mike e eu estávamos nos casando de novo, e que minha madrinha Marilene iria pro casamento. Só que dessa vez, ela pediu pra trazer três filhos adotivos dela (que na vida real ela não tem; é só no sonho). Dois eram já rapazes, e a outra era uma moça. Todos os três eram bem problemáticos: um era cego e meio estranho, sombrio, medonho... O outro era muito irritadisso, completamente agressivo. E a moça era extremamente vaidosa, cheia de uma vaidade egoísta e controladora. Enfim... Durante o casamento, eu percebi que essas três figuras (que aliás eu nunca tinha visto na vida - não usei o rosto de ninguém conhecido no sonho) estavam no casamento pra matar a gente: sim, o Mike e eu! Estavam lá pra executar nosso assassinato! Imaginem... A impressão que eu tenho é de que o sonho durou a noite INTEIRA! Eu acordava com o susto de quase ser assassinada, ai voltava a dormir, e la vinha o sonho de novo, só que dessa vez, diferente. Em cada versão do sonho, eu fechava portas, mudava o cenário do casamento, tentava avisar seguranças (já pelo quinto sonho eu tinha gradualmente contratado seguranças, mudado o cenário e resolvido casar no Canadá, e tinha avisado a imigração de que esses loucos viriam atrás de mim e do meu marido) e nada dava certo. Essas três figuras pessonhentas estavam lá, me perseguindo.

Foi ai que pelo oitavo sonho (e tentativa mal sucedida de sono) eu cansei, pedi arrego, e rezei.

Agora... Eu rezo do meu jeito, sabe? Tipo, as vezes eu escrevo pra Deus... As vezes eu rezo mesmo, as orações que a gente aprendeu na escola. As vezes eu medito, e não penso em coisa nenhuma e apenas sinto a presença do mundo ao meu redor. As vezes eu dou bronca em Deus. E as vezes eu sonho que estou rezando, ou me comunicando diretamente com qualquer um que esteja disposto a me ouvir la do outro lado... Enfim, no sonho, eu lembro que eu virei pra Deus e disse:

"Deus: não estou entendendo... Vai, diz ai, o que é que eu preciso saber? Seja mais direto por favor, porque qualquer que seja a mensagem que você está tentando me mandar, eu óbviamente não estou compreendendo, e se você quiser que eu realmente entenda, vai ter que ser muito mais explícito, porque eu também preciso dormir e acordar cêdo pra ir trabalhar! Então por favor, me explica isso. Me diz o que é que eu não estou entendendo, quem são esses loucos, e como eu me livro deles..."

E foi ai, que no oitavo sonho, Deus finalmente respondeu:

"(Ele - Deus - me chamou de alguma coisa, mas não lembro se foi Filha, Carol, Carolina, Querida, enfim...) você não tem que se livrar deles. Não percebeu ainda que eles não te mataram? Que você continua fugindo deles, mas que continua viva? Eles representam a Raiva, a Cegueira e a Vaidade... E você conseguiu provar essa semana que se você quiser, você não se deixa mais afetar por esses males... Você conseguiu. Lidou bem com a professora apesar de no fundo, ter tido uma vontade intensa de retrucar o que ela fez, abriu teus olhos pro teu potencial humano, e humildimente aceitou seu destino, mesmo sem saber qual ele era. Agora vai adiante e continue lutando pra que esses males não mais te pertubem, e pra que eles não matem o que há de mais bonito e sincero em você. Pra que eles não mais te rodeiem."

Uau.

Foi surreal... Fiquei só com pena da minha dinda, porque não sei - não tenho a menor idéia pra ser sincera - por que raios foi justamente ela (no sonho) que trouxe esses "males" pra perto de mim.

Enfim, quando eu finalmente acordei, a primeira coisa que eu fiz foi contar o tal do sonho pro Mike! Eu estava super entusiasmada, achando que eu ja tinha visto a melhor parte e que eu tinha finalmente aprendido profundas lições de vida essa semana, e que essas revelações tinham sido feitas pra mim assim, de uma hora pra outra.

E foi ai que o meu marido querido (que me ajudou a manter a raiva não só nesse último episódio, mas em muitos outros, que sempre me encorajou a tudo que eu posso ser, e que sempre (sempre!) me deu perspectiva de que a vida é realmente tão grande que eu nunca vou poder controlá-la, mas que eu posso vivê-la da melhor maneira possível) enfim, foi ai que ele carinhosamente me disse:

"Babu, você não aprendeu tudo isso nessa última semana... Não se esqueça. Levou quase 30 anos..."

Então fica aqui o meu posting da semana... Pra todos aqueles que (quem quer que sejam) finalmente chegaram, ou passaram dos 30 de cabeça fria, com os olhos abertos, e sem vaidade.

Carol