Por exemplo, comecei a comprar sabão de roupa bem hippie. Sem cheiro, e completamente biodegradável. Passei a comprar essas coisas em lojas hippies mesmo, porque pelo menos assim eu sabia que não estaria destruindo por exemplo, o rio que hoje passa do lado da minha casa.
Enfim, os tempos aqui mudaram, e finalmente eles alcançaram o Brasil nesse aspecto (aliás, vocês não imaginam o tanto de coisa que o Brasil tem e que é melhor, mais bonito, mais avançado, mas isso é outra história por completo). Bom, o fato é que hoje as comidas compradas em super-mercado têm rótulos tão detalhados quanto os do Brasil, e os produtos sanitários também. Isso significa que finalmente, a indústria de sabão pra lavar roupa tem que escrever na embalagem se o sabão é biodegradável ou não.
Foi então, que outro dia, comprei depois de quase sete anos, uma garrafona de sabão e amaciante como o dos velhos tempos: comerciais, cheirosos e finalmente, biodegradáveis! E foi ai que re-descobri mais um desses pequenos prazeres que nos permeiam todos os dias, mas que as vezes são tão simples e acabam se tornando tão óbvios, que ficam sem notoriedade alguma: as roupas perfumadas saídas da máquina de lavar (ou secar no meu caso)!
Lavei um total de cinco ciclos de roupa, e pra minha surpresa, eu cheirei compulsivamente cada peça que saia da máquina. Cada uma.
Agora... Não estou falando aqui do sentimento de deslumbramento patético e solitário que Margareth Mansfield descreveu tão bem Bliss. Esse aqui foi um sentimento de nostalgia, de redescobrimento de cheiros que senti por toda minha infância (sempre tivemos lençóis cheirosos em casa...) É um sentimento que me faz lembrar de que a vida que eu escolho todo dia, a vida que realmente me importa, talvez não seja pontuada por grandes feitos, mas tem em si uma beleza delicada, sutil de roupas cheirosas.
Talvez não seja uma vida pontuada por breves momentos de glória (por mais que eu sonhe, eu duvido que um dia eu venha a ser um marco em educação), mas é uma vida permeada de pequenos prazeres por todos os lados, como o cheiro de lenha queimando na lareira da casa do lado, ou de ver a neve grudar nos galhos das árvores e imaginar como Leslie Parke as pintaria...
E foi assim que eu aprendi nesses últimos sete anos que de repente essa vida não precisa ser vivida apenas com a intensidade na qual o Brasil faz sua fama, constantemente descrita por poetas considerados ilustres, venerados no Brasil, como Vinícius de Moraes, ou Chico Buarque... A nossa cultura têm várias nuânces, e hoje não me considero menos brasileira simplesmente porque gosto de quietude e simplicidade (e em minhas redescobertas foi que me dei conta que Deus nos deu também a Cecília Meireles...)
Tenho cada vez mais percebido que no mundo ocidental (seja no Brasil ou no Canadá) muitas vezes super-valorizamos momentos intensos de felicidade instantanea (pense por exemplo no que se tornou o Carnaval) e ignoramos a felicidade que está bem aqui do nosso lado, todos os dias, com cheiro de roupa lavada...
Carol
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