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(O Porto Feminino é um blog sem fins lucrativos, que existe desde 2007. Todos os textos foram escritos por Carolina Miranda, e são portanto de autoria original. Não existe qualquer vínculo entre o Porto Feminino e o Porto Feminino Shop).

31/01/2010

Oficialmente sem juízo

Na sexta-feira, eu fiz uma cirurgia pra remoção dos meus dentes do ciso superiores. Na verdade, eu só nasci com os dois de cima, o que sempre me deu a impressão de que eu era um exemplo avançado da evolução humana. Óbviamente de nada importou a minha percepção do quanto evoluída eu talvez fosse, porque no fim, fui parar na sala de cirurgia do mesmo jeito.

No fim, a cirurgia foi tranquila. De acordo com o cirurgião, os meus dentes foram super fáceis de serem removidos (levaram 30 minutos os dois, ao invés dos 50 minutos que em média se leva - talvez eu seja mesmo um exemplar evolutivo?) A anestesia geral não causou tanto estrago assim (ao que diz o Mike, eu contei a mesma história 3 vezes seguidas pras enfermeiras, mas foi só) e depois, quando cheguei em casa, fiquei de repouso o dia todo. 

Ainda sedada, com gêlo nas bochechas, tomando muita arnica, chá de camomila, e comendo muita comida mole (patê de ovo, sopa, e derivados), eu tive até tempo de fazer um videozinho e mandar pra minha amiga Jú, contando que no fim, não dói tanto assim, e que só incomoda pra falar (foi aliás, a primeira coisa que eu pedi pro Mike me ajudar a fazer - gravar o tal do vídeo! Talvez a anestesia tenha me afetado mais do que parecia...) Mas enfim cá estou eu, curtindo o meu domingo, ainda com bochechas de Betty Boop, contando os dias em que eu vou voltar a comer pão francês, comer comida bem quente,  tomar vinho, e a poder dar risada sem doer muito. Aliás, ja marquei um fondue com amigos pra essa próxima sexta-feira, pra resolver isso o mais rápido possível.  

Porém, nessas de ficar de repouso, eu aproveitei pra me deliciar com um monte de baboseira! Afinal, tiraram meus dentes do juízo, então achei melhor fazer juz... Passei a sexta-feira lendo todas as revistas de fofocas imagináveis, de graça, online. Dai me cansei das fofocas, e resolvi ler um livro só sobre cosméticos, que minha colega no trabalho me emprestou. Quem escreveu foi a Paula Begoun - "Don't go to the Cosmetic Counter Without Me". O livro é uma bíblia da industria de cosméticos, e tem um website dela também que chama Beautipedia - onde você pode pesquisar quais as marcas que ela recomenda de acordo com os ingredientes (quais fazem mal, quais não fazem, quais testam em animais, quais não testam, etc.) Passei o DIA investigando todos os produtos que eu uso e encontrando novas alternativas - de desodorante, ao shampoo, ao creme pros olhos! Uma delícia esse negócio de falta de juízo! Também achei um salão completamente ecológico aqui em Kitchener, e ja marquei depilação, corte, etc. Li o posting da minha amiga Lili sobre o seu novo corte de cabelo e finalmente, comprei uma peruca azul de corte chanel, pra minha fantasia de Coraline pra festa de aniversário a fantasia dos meus pais em Julho!

Enquanto isso, o Mike todo fofo, cuidou de mim o dia todo. Comprou sopas, esquentou as sopas, fez almoço, deu remédio, levou a Lola pra passear... Um amor de marido. 

Nessas e outras, fiquei pensando no alívio que eu senti em ter o meu marido aqui só pra mim, e como eu talvez não tivesse aproveitado meu dia sem juízo, caso a gente tivesse filhos. Não estou fazendo campanha contra filhos, não. Mas não pude deixar de observar como a nossa vida é tranquila, e de como a gente realmente ainda não está preparados pra dividí-la. Eu fiquei de pijama o dia inteiro no sábado, cuidado do meu curso (estou me especializando em Educação Especial) e de uma lista de mais de 300 emails que precisavam ser deletados. Comi quando quis, acordei quando quis, e dormi quando tive vontade. Nessas e outras, não tive como não observar o quanto eu adoro o meu marido, o meu cachorro, e o meu silêncio. E é também contraditóriamente porcausa dessa vida tranquila, com um marido tão querido, que nessas e outras dá vontade de ter filho sim. De querer ter uma chance de colocar no mundo um ser-humano que na melhor das hipóteses, vai misturar o que existe de melhor da gente, e da pessoa que a gente ama. E foi isso tudo que possibilitou uma conversa bem franca entre o Mike e eu. 

A gente conversou sobre as possibilidades de se ter filho, e a nossa conversa foi bem transparente. Aliás, a gente tem se permitido ser cada vez mais honestos um com o outro. E dessa vez o Mike foi bem sincero comigo ao me dizer que na verdade, ele não tinha sonhado em se aposentar pra virar pai em tempo integral. Com a nossa diferença de idade (18 anos, pra quem não sabe) é bem provável que se a gente tiver filho, vai ser o Mike que vai ficar em casa com a criança, e não eu, simplesmente porque quem vai estar no pico da carreira, e ganhando o pão pra família vai ser eu. O que inevitavelmente faz dele o "dono-de-casa". Eu ainda não tinha me dado conta disso assim, tão claramente. 

O que eu achei interessante na nossa conversa, foram duas coisas. Uma é que nunca me passou pela cabeça ser mãe em tempo integral, mas até então, achei que essa questão fosse mais minha do que dele. A outra parte que eu fiquei pensando, é que acho que raramente o homem  questiona a sua posição. Acho que com a maioria dos casais, é quase como uma regra geral: quem faz esses questionamentos são as mulheres. O que eu vou ter que deixar pra trás? Será que eu vou conseguir trabalhar e cuidar da casa ao mesmo tempo? Será que eu gosto mesmo assim de criança pra ter uma  por perto pra uma vida inteira? E todos os meus sonhos? Pra onde vão, e de quantos eu vou realmente ter que desistir? 

Nessa minha vasta existência de quase 30 anos, eu só conheço um homem que tenha se permitido ficar em casa com os filhos, ao invés da esposa. Agora o Mike entrou pro hall of fame também, ao pelo menos se questionar e se colocar nessa posição de maneira real, talvez pela condição da nossa relação e diferença de idade. Ele realmente se viu envolto por essas dúvidas domésticas tanto quanto eu, e está se permitindo questionar também se realmente essa é uma opção que faz sentido pra vida dele, e portanto pra nossa vida. 

Como sempre, não chegamos a conclusão nenhuma sobre os filhos. Mas chegamos a uma conclusão não menos importante na minha opinião: que aqui em casa pelo menos, o que vale pra um, vale pro outro na mesma moeda. O Mike não me acusa de não ser maternal o suficiente, ou de não ser feminina o suficiente só porque eu não me identifico com o papel de mãe 100%.  Acho que na nossa relação, isso acontece porque ele se permite realmente pensar sobre o papel de pai participativo, e não distante. Que se ele for ser pai, vai ter que ser o pai que vai fazer a janta, que vai dar banho, mais até do que eu. E pra ele, esse papel é tão assustador como pra mim, e por razões muito similares. 

Mas enquanto isso...

Fico por aqui assim, com cara de Betty Boop, de pijama, com uma lista de cosméticos deliciosa, uma cachorrinha mais do que dengosa no meu colo, e um marido me mimando o dia inteiro e completamente, oficialmente, sem juízo!

Boop-boop-a-doo pra todos -

Carol

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